sábado, 1 de março de 2008

A Valsa

A VALSA

Tu, ontem,

Na dança

Que cansa,

Voavas

Co’as faces

Em rosas

Formosas

De vivo,

Lascivo

Carmim;

Na valsa

Tão falsa,

Corrias,

Fugias,

Ardente,

Contente,

Tranqüila,

Serena,

Sem pena

De mim!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Que louco

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

- Não negues,

Não mintas...

-Eu vi!...

Valsavas:

-Teus belos

Cabelos,

Já soltos,

Revoltos,

Saltavam,

Voavam,

Brincavam

No colo

Que é meu;

E os olhos

Escuros

Tão puros,

Os olhos

Perjuros

Volvias,

Tremias,

Sorrias,

Pr’a outro

Não eu!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores

Senti!

Quem dera

Que sintas!...

-não negues,

Não mintas...

- Eu vi!...

Meu Deus!

Eras bela

Donzela,

Valsando,

Sorrindo,

Fugindo,

Qual silfo

Risonho

Que em sonho

Nos vem!

Mas esse

Sorriso

Tão liso

Que tinhas

Nos lábios

De rosa,

Formosa,

Tu davas,

Mandavas

A quem?!

Calado,

Sozinho,

Mesquinho,

Em zelos

Ardendo

Eu vi-te

Correndo

Tão falsa

Na valsa

Veloz!

Eu triste

Vi tudo!

Mas mudo

Não tive

Nas galas

Das salas,

Nem falas,

Nem cantos,

Nem prantos,

Nem voz!

Na valsa

Cansaste;

Ficaste

Prostrada,

Turbada!

Pensavas,

Cismavas,

E estavas

Tão pálida

Então;

Qual pálida

Rosa

Mimosa,

No vale

Do vento

Cruento

Batida,

Caída,

Sem vida

No chão!

Quem dera

Que sintas

As dores

De amores (...)

Não te amo mais

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis

Tenho certeza que

Nada foi em vão

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada

Não poderia dizer mais que

Alimento um grande amor

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase

Eu te amo!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais.



"Casimiro de Abreu"

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